Estudo de assessoria técnica analisa impacto das ações militares da Rússia para balança comercial dos 24 municípios da Região Metropolitana de Piracicaba
A invasão da Ucrânia pela Rússia na última quinta-feira (24) trouxe uma preocupação ao Parlamento Metropolitano de Piracicaba diante da possibilidade de impacto comercial no bloco regional, integrado por 24 municípios. O risco analisado é quanto ao saldo das transações de importações e exportações de cada município com países envolvidos no conflito.
O estudo cenário foi determinado pelo presidente do Parlamento, Gilmar Rotta (Cidadania), que tem buscado focar a atuação do legislativo regional em ações que analisem e tragam propostas para a proteção fomento da economia regional. “A análise das relações comerciais das cidades que envolvem a Região Metropolitana de Piracicaba com Ucrânia e Rússia surpreende quanto a movimentação de recursos que podem ser afetados com o conflito”, explica Rotta.
Elaborado pelo economista e assessor especial a presidência de Piracicaba, em apoio ao Parlamento, Ricardo Buso, o estudo traz dados confiáveis e plenamente aplicáveis, ao ponto de caracterizarem subsídio aos questionamentos mais urgentes. “O que é necessário para estarmos prontos para tratar de desenvolvimento regional”, afirma Gilmar.
Segundo Buso, o estudo tomou como base as exportações e importações entre cada município, Rússia e Ucrânia em 2021, tendo como fonte o Ministério do Desenvolvimento. “Além de exportação, importação e participação no total, que o sistema oferece pronto, é possível extrair o saldo da balança comercial com cada país, que é total exportado subtraindo o total importado, e a corrente de comércio, que é o total exportado somado ao total importado. “A exposição comercial direta da Região Metropolitana de Piracicaba com os países em conflito, Rússia e Ucrânia, pode ser considerada modesta”, aponta.
No entanto, sempre em valores FOB (Free On Board - modalidade de exportação caracterizada pelos custos da produção suportados pelo exportador até a entrada no navio), do total de US$ 48,45 milhões exportado pelo conjunto dos municípios aos dois países, cerca de 75% (US$ 36,51 milhões) se destinou à Rússia, ficando a Ucrânia com o residual do saldo. “No total de R$ 14,61 milhões de importações, a predominância russa se intensificou, com 82% do total, equivalente a US$ 11,94 milhões”, afirma Buso.
Em termos proporcionais, o conjunto Rússia e Ucrânia recebeu o equivalente a 1,17% das exportações da RMP no ano base, sendo a fatia russa de 0,88%. De forma ainda menos expressiva, os 24 municípios trouxeram dos dois países o total equivalente a 0,39% de todas as suas importações, com predominância da Ucrânia, em 0,24%.
O saldo comercial com os países do conflito foi favorável a Região Metropolitana de Piracicaba, cujas exportações superaram as importações, em cerca de US$ 34 milhões. E a chamada “corrente de comércio”, que soma exportações e importações de nossa região com tais países, foi de aproximadamente US$ 63 milhões no ano. “Embora os números se mostrem proporcionalmente pouco expressivos, a questão a se observar é que são clientes de nossa produção e, consequentemente, qualquer agravamento de tensão pode requer do bloco vendedor a atenção em remanejar o destino da produção”, alerta.
Detalhando a análise aos municípios, o destaque em termos absolutos fica para Piracicaba, que em 2021 conquistou saldo comercial de US$ 42 milhões (em exportações que superaram as importações) com os dois países. A conta foi reforçada através da marca de US$ 32,50 milhões de exportações piracicabanas a economia russa. Na soma das exportações do município, o equivalente a 1,87% se destinou aos países em questão. Para Gilmar Rotta, o valor é considerável e precisa receber a atenção diante dos reflexos que pode causar em cadeia, tanto na geração de recursos quanto para renda dos trabalhadores.
Embora com cifras absolutas menores, o estudo aponta que Iracemápolis se assemelha a Piracicaba na importância proporcional das exportações ao conjunto conflituoso. A fatia de 1,83% de suas exportações foi para lá enviada. Já Rio Claro tem relação inversa, mais dependente de importações dos dois países. Suas compras superaram em US$ 13 milhões as exportações, principalmente da Ucrânia, de onde vem 3% de suas importações. Num caso mais extremo, a preocupação local seria a de substituir vendedores.
Além da “Cidade Azul”, somente Pirassununga e Santa Gertrudes na RMP são caracterizadas por importações superiores às exportações nas relações com Rússia e Ucrânia.
Rotta afirma que tratar apenas das relações diretas de comércio internacional entre os envolvidos seria analisar com simplicidade os riscos. “É preciso analisar um contexto maior, dos dois países em questão como supridores de importantes cadeias produtivas globais, que impactam também o Brasil e que não há qualquer tipo de imunidade à Região Metropolitana de Piracicaba”, afirma o presidente.
Ele repercute o estudo que aponta que, num ambiente de participação expressiva do agronegócio na produção, convém lembrar que os dois países são importantes exportadores globais de matérias primas aos defensivos agrícolas, que mesmo se os produtos finais chegarem por aqui através outros países, podem depender dos insumos produzidos na área do conflito. “Há uma possibilidade de desabastecimento com elevação de custos que apontamos no estudo”, destaca Rotta.
No contexto da produção de alimentos, o estudo destaca ainda que os dois países são supridores globais de grãos. Rússia está entre os maiores exportadores de trigo (cuja dependência brasileira da importação é elevada) e Ucrânia é o quarto maior exportador global de milho. Não menos importante, a região do conflito abastece boa parte do petróleo mundial e do gás europeu.
Em ambiente globalizado, os preços das chamadas commodities, tanto as agrícolas quanto as energéticas, são muito voláteis às tensões geopolíticas (de difícil previsão econômica) e sempre capazes a impor adicionais desafios à inflação, juros e crescimento econômico, fatores que devem ser monitorados tanto na economia da Região Metropolitana quanto do país, diante dos impactos na economia, já fragilizada, diante de fatores políticos e sociais brasileiros.
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